quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Os Padrões de Fé de Westminster | Sua origem, seus limites e sua importância


Os Padrões de Fé de Westminster

Sua origem, seus limites e sua importância

Os documentos teológicos conhecidos como Os Padrões de Fé de Westminster, ou também, Símbolos de Fé de Westminster são: a Confissão de Fé com trinta e três capítulos, os dois Catecismos, o Breve (para crianças) contendo 107 perguntas e respostas, e o Maior (para os adultos) contendo 196 perguntas e respostas, e o Diretório de Culto. 

Esse Padrões de Fé foram adotados pela maioria das Igrejas Reformadas e Calvinistas, e ainda algumas poucas, hoje os adotam (a Igreja Presbiteriana do Brasil, por exemplo, com exceção do Diretório de Culto o qual foi adaptado para o que é conhecido como Princípios de Liturgia). Aqueles que se declaram “reformados” devem ter apreço pelos Padrões de Fé. Infelizmente, muitos que se dizem reformados, além de não demonstrarem o apreço devido, nem mesmo os conhecem (talvez isso explique a falta de apreço). 

Neste artigo proponho a abordagem de três elementos relacionados aos Padrões de Fé de Westminster: a sua origem, os seus limites e a sua importância.


A origem dos Padrões de Fé de Westminster  

Vejamos um breve relato. Corria o ano de 1603, quando Tiago VI da Escócia tornou-se Tiago I da Inglaterra, unificando assim os dois reinos. Ele calvinista, fato que fez os puritanos alimentarem a esperança de implantarem o presbiterianismo na igreja inglesa (anglicana). 

Neste mesmo ano, cerca de mil ministros puritanos assinaram a “Petição Milenar”, na qual queriam que a igreja anglicana fosse completamente “puritana” na liturgia e na administração. Assim como no século anterior, Lutero, Calvino e outros, seguindo as ideias dos precursores da Reforma, confrontaram a igreja de Roma, da mesma forma agora, no século XVII, os puritanos levantaram-se contra o ritualismo litúrgico e administração da igreja anglicana.

Tiago e os puritanos seguiram em disputa, levando as questões para além da forma de governo eclesiástico (o episcopalismo sendo substituído pelo presbiterianismo). Questões políticas também se fizeram presentes. Tiago controlava muita coisa porque os Tudors inventaram um sistema extralegal que lhe conferia esse controle. Agora, a disputa era em torno do governo civil, entre o Parlamentarismo e a Monarquia: o rei tinha era um soberano instituído por Deus, ou o povo, por meio do Parlamento poderia escolher o seu rei? 

Enquanto a situação estava caótica na Inglaterra, o Parlamento aboliu o sistema episcopal, e em 1643, convocou uma assembleia na capela de Westminster, em Londres, para assessorá-lo tanto na administração do país quanto na sua teologia. Essa assembleia constituiu-se de 151 teólogos puritanos ingleses e, mais oito presbiterianos escoceses. Este grupo se reuniu em 1163 sessões diárias entre 1643 a 1648, quando seu trabalho foi dado como concluído, embora a Assembleia viesse a se dissolver somente em 1652. Essa solene assembleia trouxe à existência os Padrões de Fé de Westminster.


Os seus limites

A proposta dos Padrões de Fé é serem instrumentos na interpretação e aplicação das Escrituras. Eles são o que pode ser chamado de um “sistema teológico” com o qual interpretamos, entendemos e aplicamos em nossa vida as doutrinas bíblicas. Pense numa biblioteca. Ali existem milhares de livros de todos os assuntos. Se estes livros estivessem ali sem nenhuma organização por assunto, mas apenas ali guardados, estariam ali, mas, o trabalho que alguém teria para encontrar algum livro específico, e o tempo despendido nisso faria com que o conhecimento ali guardado não fosse devidamente aproveitado. Por isso, os livros numa biblioteca são separados primeiramente, por assunto (História, Física, Química, Política, Religião, etc.), depois, em cada seção, os livros são separados obedecendo a critérios estabelecidos pelo responsável pela biblioteca. Assim, não são necessários mais que uns poucos minutos para se encontrar um livro específico. Aquilo que chamamos de “Teologia Sistemática” é como se fosse uma biblioteca organizando as várias doutrinas da Fé Cristã contidas aleatoriamente nas Escrituras de forma. Assim, os Padrões de Fé organizam as doutrinas bíblicas, apresentando-as agrupadas e com várias referências para embasar essas doutrinas. 

Este é outro ponto importante, a saber, não se faz nenhuma doutrina com um único versículo. A Confissão de Fé de Westminster, Cap. I - §IX, diz:

A regra infalível de interpretação da Escritura é a própria Escritura; portanto, quando houver uma dúvida sobre o sentido verdadeiro e pleno de qualquer passagem da Escritura (que não é múltiplo, mas único), ela pode ser pesquisada e compreendida por outras passagens que falem mais claramente. (At 15.15; Jo 5.46; 2Pe 1.20-21).

Todas as doutrinas bíblicas vêm acompanhadas de várias referências tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Uma seita herética tem como uma de suas principais características, utilizarem apenas um versículo para embasar suas práticas heréticas. Assim sendo, os Padrões de Fé servem como sistematizadores das doutrinas para que as encontremos com mais facilidade, e, possamos estuda-las com mais profundidade. 

Um Padrão de Fé confiável nunca se colocará acima das Escrituras; nunca afirmará ser mais importante que elas. Veja o que a Confissão de Fé de Westminster diz no Cap. I – §I:

Embora a luz da natureza, e as obras da criação e da providência, até agora manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de deixar os homens indesculpáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade que é necessário para a salvação. Portanto, aprouve ao Senhor, muitas vezes e de diversas maneiras, revelar-se e declarar essa vontade à sua igreja; e depois, para a melhor preservação e propagação da verdade, e para o mais seguro estabelecimento e conforto da igreja contra a corrupção da carne e a malícia de Satanás e do mundo, entregá-la totalmente por escrito; o que torna a Sagrada Escritura indispensável, tendo aqueles modos anteriores de Deus revelar sua vontade ao seu povo cessado agora. Sl 19.1-4; Rm1.32, 2.1, 1.19-20, 2.14-15; 1Co 1.21, 2.13-14; Hb 1.1; Lc 1.3-4; Rm 15.4; Mt 4.4,7,10; Is 8.19-20; 2Tm 3.15; 2Pe 1.19. (Grifo é meu).

E no §X do mesmo capítulo:

O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas devem ser determinadas, e por quem todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e opiniões particulares devem ser examinados, e em cuja sentença devemos nos basear, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando nas Escrituras (Mt 22.29,31; At 28.25; Gl 1.10).

Observe que tudo o que o homem produz em relação às Escrituras, quer sejam artigos, decretos de concílios, escritos e opiniões de escritores (de todos os tempos), devem ser submetidos às Escrituras e à autoridade divina que elas têm. Portanto, uma igreja que coloca as Escrituras no mesmo nível que suas tradições ou o que seus líderes dizem (por exemplo, a igreja de Roma), ou da Filosofia ou Psicologia (como muitos ditos cristãos de todas as vertentes do Cristianismo fazem em nossos dias), não são de fato cristãos, pois, não são de fato bíblicos. E aqui partimos para o último ponto desse artigo.


A importância dos Padrões de Fé de Westminster

A importância desses Padrões de Fé, além de enaltecerem a autoridade e supremacia das Escrituras, também se dá em relação à identidade tanto do crente quanto de sua denominação. Veja por exemplo, a Igreja Presbiteriana do Brasil. É exigido de seus oficiais no dia de sua ordenação, e dos seus membros, no dia de seu batismo e pública profissão de fé, que subscrevam integralmente o que dizem os nossos Símbolos de Fé. Enquanto as Escrituras nos definem e identificam como crentes em Cristo Jesus, os Símbolos de Fé nos identificam como reformados. Mas, por que ser identificado como reformado é algo importante? 

Um cristão reformado é bíblico. Ele tem as Escrituras como sua única regra de fé e prática. Ele não se deixa levar por modismos e tradições humanas. Ele tem sua fé firmada na Palavra de Deus, e, não vive buscando outras formas de revelação, porque crê que as Escrituras são suficientes não só lhe revelar a vontade de Deus, como também capacitá-lo a fazer a vontade Dele.

Um cristão reformado apresenta a Deus um culto bíblico. Todo o conhecimento concedido por Deus aos homens para a salvação, tem como objetivo final a adoração a Deus. Evangelizamos a fim de vermos os pecadores serem convertidos e transformados em filhos de Deus para que O adorem em espírito e em verdade por meio de um culto bíblico, tal como Deus assim o requer de nós. Os Padrões de Fé apresentam-nos o princípio regulador do culto, tendo a Deus como o único alvo da nossa adoração, a Cristo como o único Mediador entre nós e Deus, e o Espírito Santo como o que nos conduz nesta adoração. Assim, o culto bíblico é também, teocêntrico.

Um cristão reformado, quer seja um membro da Igreja ou um oficial da mesma, é uma pessoa de palavra e fiel. É lamentável vermos tantos membros e oficiais das nossas igrejas quebrando os votos e juramentos que fizeram em ocasiões solenes (batismo, profissão de fé, casamento, ordenação, etc.). Porém, um crente verdadeiro honrará seus votos e juramentos. Um pastor que no dia de sua ordenação jurou subscrição integral aos Símbolos de Fé e honra esse compromisso, certamente, é confiável. Sua pregação não tem o objetivo de agradar as pessoas, mas, a Deus. Sua forma de conduzir a Igreja será bíblica, pois, seu compromisso, antes de tudo, é com Deus. Uma igreja que está num processo de escolha de pastor deveria levar em total consideração o compromisso que seus candidatos têm com as Escrituras e com os Padrões de Fé adotados. A Igreja de Cristo, em nossos dias, mais do que nunca, necessita de pastores assim. 


Conclusão

Deixo aqui o desafio para você estudar os Padrões de Fé de Westminster, quer em sua Igreja (Escola Dominical, Pequenos Grupos, etc.), quer em seu lar (Devocional particular, Culto em Família, etc.). Os mestres e pastores da Assembleia de Westminster quando produziram esses materiais, não somente estavam respondendo ao Parlamento Inglês que questionava no que eles criam. Eles também quiseram munir a Igreja, tanto crianças quanto adultos, com a sã doutrina, para que esta pudesse suportar os ataques dos inimigos da Igreja, e crescerem na Graça e no Conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Há muita preocupação com a conversão dos pecadores, e muito esforço é empregado nisso. Porém, infelizmente, não se vê o mesmo empenho no crescimento espiritual, bíblico e doutrinário dos convertidos. Tanto a conversão quanto o crescimento espiritual são importantes; um depende do outro. Não há crescimento sem antes ter havido a conversão; mas, onde não há crescimento, a conversão é questionável.

Escrito por 
Olivar Alves Pereira - Pastor da Igreja Presbiteriana da Vila Pinheiro, Jacareí - SP

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Um comentário:

  1. Graça e Paz, muito esclarecedor este texto e de fácil entendimento; Que, Deus continue abençoando e inspirando. Deus seja louvado!

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