A diferença entre medo,
fobia e pânico
Escrito por Daniel Bento
Outro dia, na fila do
supermercado, enquanto eu e minha esposa aguardávamos para passar pelo caixa,
uma senhora à nossa frente conversava com a funcionária e acabou se dirigindo a
nós, comentando que estava muito sobrecarregada, que havia ido ao hospital duas
vezes naquela semana com dificuldade para respirar e dores no peito, mas que
fora dispensada com o diagnóstico de ansiedade. Ela comentou ainda de sua
angústia e medo gerados pelo ambiente de trabalho estressante; felizmente, em
rápidas palavras, pudemos falar do amor de Deus a ela e convidá-la para
conhecer a nossa igreja. Fica evidente, a partir deste episódio, que as pessoas
estão atravessando muitas angústias e medos, a ponto de se abrir com estranhos
em um supermercado. É importante entender como funciona esse mecanismo e estar
atento aos sinais de quando o medo pode se tornar algo mais grave, causando
sérios danos à nossa saúde mental.
O medo é um mecanismo de defesa
natural e saudável porque nos permite nos afastarmos de situações que possam
ter um potencial destrutivo contra a nossa integridade, seja emocional, seja
física. Porém, quando o medo começa a ser alimentado de forma exagerada,
torna-se patológico, podendo se transformar em fobia que pode avançar para
quadros de síndrome de pânico. O pânico nunca é um evento que surge do nada;
ele é, na verdade, o resultado de algumas etapas que foram percorridas e, por
vezes, a pessoa nem se apercebeu disso. O pânico é uma reação pontual e
extremamente forte de medo, um medo que começou lá atrás e não foi trabalhado.
Do
ponto de vista clínico, nos últimos três anos em particular, tenho observado
que as maiores incidências de medo ou os medos mais comuns são: medo de morrer,
medo de perder alguém para a morte, medo de não dar conta de uma situação
(sentir-se impotente diante de um desafio) e medo de rejeição. Quando um desses
medos (ou todos eles) começa a habitar muito a mente da pessoa, ela está a
caminho de desenvolver uma fobia e depois o pânico. Geralmente, na fobia, a
pessoa já começa a se tornar paralisada diante da impressão ou convicção de que
algo ruim irá acontecer. Aquilo que poderia acontecer remotamente, acaba se
tornando algo tão presente no coração da pessoa que se torna uma convicção. Ela
está certa, nada tira da cabeça dela que o seu medo irá se concretizar. Então,
a pessoa acaba desenvolvendo uma paralisia diante da situação, instala-se um
quadro de histeria e a pessoa acaba ficando imobilizada emocionalmente e em
alguns casos, até fisicamente.
Quando chega o quadro de pânico,
a pessoa demonstra sintomas psicossomáticos: sudorese, tremor, choro, angústia,
mudança na voz (algumas pessoas passam a ter a voz infantilizada ou voz
aumentada, isto é, fala quase que gritando), transtornos de sono, transtornos
alimentares, isolamento, carência afetiva aumentada. São sintomas importantes
para se observar ao se diagnosticar uma síndrome de pânico.
Em todos os quadros, seja medo,
seja fobia, seja pânico, a intersecção sintomática é a ansiedade, ou seja, o
sintoma que intersecciona ou está presente nesses quadros é a ansiedade. Que em
si, não é ruim porque a ansiedade saudável é a expectativa boa, produtiva e
proativa de algo que vai acontecer. Por exemplo, a pessoa foi convidada para um
evento, ela se planeja, compra uma roupa, vai cortar o cabelo, vai se arrumar,
compra um perfume, compra um presente, tudo isso faz parte da boa ansiedade.
Agora, quando a pessoa começa a supervalorizar essas questões, ela pode estar
caminhando também para um transtorno de ansiedade.
Daniel Bento
Pastor
batista e psicanalista clínico
Pós-graduado em
Aconselhamento
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