quinta-feira, 10 de março de 2022

Acolhimento e Quaresma


Acolhimento e Quaresma

Escrito por Pr. Durval Neto

Consolem o vosso coração e vos confirmem em toda boa obra e boa palavra.

2ª Tessalonicenses 2.17

 

Inicia-se hoje a quaresma, contam-se 40 dias até o Domingo de Ramos, dando início à semana santa que culmina na Páscoa.

Historicamente, entre os cristãos, com a chancela do Concílio de Niceia no séc. IV, este é um período de especial devoção. Nestes 40 dias que antecedem a Páscoa (44 dias, desde Paulo VI) muitos cristãos dedicam-se a jejuns, caridades e longos períodos de oração e leituras bíblicas - principalmente nas tradições cristãs católica, luterana, ortodoxa e anglicana.

O Concílio de Niceia oficializou a quaresma (quadragesima, em latim - 40 dias) no calendário cristão baseado em já tradicional prática da igreja, que escolhera esses 40 dias anteriores à Páscoa como símbolo de outros importantes períodos de “40” descritos nas Escrituras, como o jejum de Jesus no deserto, que durou 40 dias; o dilúvio ao qual Noé sobreviveu, que também durou 40 dias e 40 noites; a travessia do deserto por Moisés e os hebreus, que ocorreu em 40 anos, etc.

A tradição cristã de herança puritana-calvinista, os integrantes da chamada reforma radical, como os anabatistas, bem como o pentecostalismo e mais tarde o neo-pentecostalismo, tradições constituintes do protestantismo de missão e formadoras do evangelicalismo brasileiro, respectivamente, sempre sustentaram que não há razão para se observar a quaresma, uma vez que jejuns, caridades e dedicação às orações e leituras bíblicas devem fazer parte do cotidiano do crente. Tais disciplinas não devem ser destacadas apenas num período específico. Bem como os votos e restrições aderidos no período quaresmal são inúteis, se eivados na verdade interior.

Há de se observar atentamente a questão da interioridade. De nada valem os votos e restrições sem a adoração sincera daquele que apresenta sua oferta, sem dúvidas. Mas quem pode medir essa sinceridade? Ainda, considerando a antiguidade, tradição e frutos historicamente presentes nas comunidades cristãs no período quaresmal, não cabe o esforço de conservar o que tenta uni-las de alguma forma? Ou jejuar, orar, ler a Palavra de Deus, abdicar do mundo, em algum momento se torna vergonhoso à fé?

Pois se para ganhar a amizade do semelhante pode-se usufruir da liberdade de não comer carne vermelha na sexta-feira da Paixão, por que não o fazer, por exemplo? E se ao comer não se oferece escândalo e nem tropeça o irmão, também disso não haverá cobrança.

Na quaresma e no restante do ano, busquemos acolher o irmão. Porque a ordem é esta: “Consolem o vosso coração (orando juntos) e vos confirmem em toda boa obra (fazendo caridade juntos) e boa palavra (lendo juntos a Bíblia).”

 

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