Choro para ir à Escola: Sinal de Violência?
Escrito por: Daniel Bento da Silva
Ter filhos é um privilégio maravilhoso e ao mesmo tempo um desafio enorme, porque simultaneamente ao processo de desenvolvimento do qual participamos e vemos acontecer nas nossas crianças, surgem as dúvidas se estamos fazendo a coisa certa e se estamos enxergando tudo o que precisa ser visto e percebido para que a criança não tenha prejuízo emocional. Muitos pais, com a melhor das intenções, acabam se tornando reféns de suas próprias neuroses, e isso é muito sério porque rouba-lhes a qualidade de vida, afeta diretamente as crianças e priva pais e filhos de curtirem um ao outro. A recomendação é sempre muito equilíbrio e bom senso ao avaliar uma situação.
Diante de
alguns casos veiculados pela mídia de maus tratos e até violência em escolas,
que sinais devem ser observados pelos pais? Será que o fato de uma criança
chorar por não querer ir à escola ou dizer que não gosta da escola é evidência
suficiente de que está sofrendo algum tipo de violência?
Nem sempre, por isso é
importante atentar também para algumas situações mais corriqueiras relacionadas
à resistência da criança em ir à escola que nada têm a ver com violência.
Evidentemente
que em caso de alguma violência (moral, emocional, física ou sexual) da qual
uma criança seja vítima, ela tentará se defender reagindo com choro e
resistência, por exemplo, para evitar ser levada ao ambiente no qual sofra
algum mal. Nesse caso, é preciso investigar com atenção e cautela. Mas em boa
parte das vezes, a causa do choro é algo muito mais simples e inocente do que
uma violência.
Uma criança
que esteja em processo de socialização e que tenha até então o seu lar como
único referencial de prazer e segurança pode apresentar o choro como mecanismo
de defesa e inclusive de manipulação, tentando evitar o lugar em que ela terá
de seguir atividades nas quais pode não estar interessada naquele dia. Ela
desejará evitá-las porque tais atividades ainda não se tornaram hábito para ela
e também porque será forçada a deixar a sua “zona de conforto”, e ainda porque
talvez o processo de adaptação escolar tenha sofrido algum pequeno transtorno
comum deste momento.
Várias crianças costumam chorar no momento de ir para a escola não porque estejam enfrentando alguma situação de violência lá, mas simplesmente porque é mais prazeroso estar no aconchego do lar, onde elas nem sempre têm horários e rotinas fixas do que em um lugar em que, por sua natureza pedagógica e coletiva, elas serão submetidas a várias regras e tarefas. Aliás as rotinas em casa são fundamentais para uma boa socialização das crianças, mas disso falarei em outro texto. Então se a criança chora ao sair rumo à escola e/ou durante todo o trajeto, no entanto, ao se aproximar da escola e ver os novos coleguinhas brincando, se anima e fica bem, isso é sinal de que não se trata de uma vítima de maus tratos, apenas de resistência ao novo.
Outra
situação: crianças que não estejam sendo treinadas a lidar com as frustrações
comuns da vida, tendem a não “gostar” da escola quando são obrigadas a lidar
com frustrações presentes na vida escolar.
Essas frustrações são geradas quando
o brinquedo desejado está sendo usado por outra criança, a brincadeira
escolhida por ela não é a preferida pelo grupo, ou quando não recebe a atenção
exclusiva da professora (que precisa dividir sua atenção com as demais crianças
da sala). A fala “Eu não gosto da escola” ou “Eu não gosto desta escola” também
não sinaliza necessariamente casos de violência.
Se os pais
assumirem qualquer resistência da criança à escola como uma “evidência” de
violência, eles podem introjetar na criança os medos que as suas próprias
neuroses lhes impõem. É preciso muita cautela em situações assim. Conhecer
muito bem a escola, os professores e funcionários, conhecer a rotina que será
vivenciada na escola e complementar tais rotinas com novas atividades em casa
ajudam a tornar o processo de adaptação mais fácil, a dirimir as resistências
dos pequeninos e a tornar prazeroso ir para a escola.
Se a criança já possui articulação na fala, escute-a sempre que ela manifestar mudanças de comportamentos e se isso acontecer, procure conversar com quem tem conhecimento da área para ajudar você a decifrar o que é mera resistência e manipulação infantil e o que possa ser um caso de violência.
Que Deus
abençoe cada um de vocês e suas crianças.
- Daniel Bento
da Silva, Pastor
Batista, Psicanalista
Clínico e Pós-graduando
em Aconselhamento
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